8 de fevereiro de 2012

Estudante Indígena de Jordão pede apoio para garantir sua formação

 


Pedido de ajuda vamos nos solidarizar:

Eduardo, gostaria que você conversasse com algum líder da assessoria dos povos indígenas, Zezinho, que você comunique sobre a minha situação e exigo como pertencente ao grupo dos hunikuins que eles me auxiliem de alguma forma, pois a minha formação será em prol desse povo.

Contudo, não recebo apoio de nenhum líder e ninguém da escala governamental, se não fosse o SR. Carlos Freire seria inviável eu está aqui. Por favor, comunique isso a eles ou  a ele. Um grande abraço!

A notícia boa que nos chega é que foi aprovado no vestibular indígena para a carreira de Medicina, na Universidade Federal de São Carlos, no interior de São Paulo, o jovem hunikuin Ornaldo Baltazar Sena, Ibã. Ele é filho do agente de saúde Francisco Senhorzinho Sereno Sena, pajé do Jordão, e sobrinho do grande liderança Francisco Sabino, da Aldeia Posto de Vigilância Novo Segredo, nas cabeceiras do Jordão.

O mérito do jovem txai se deve também ao suporte que uma família "nauá" (como os hunikuin chamam os vizinhos brancos) ofereceu a ele, proporcionando um ensino médio de qualidade na capital do estado. Com certeza, para o Sr. Carlos Freire e seus familiares, que o ampararam aqui em Rio Branco, esta é uma alegria também por contribuir com a sociedade acreana em geral e em especial com a sociedade indígena, pois este primeiro índio acreano quando se formar médico servirá certamente de estímulo à formação de muitos outros jovens das etnias aqui representadas no estado.

Neste ponto, será importante re-pensar a educação indígena no Acre, pois a identificação de potenciais humanos a partir de testes vocacionais ainda não é praticada, ainda não há uniformização entre o material didático das escolas estaduais indígenas e o proporcionado por muitas escolas indígenas municipais existentes no estado, ainda não existe possibilidade de conclusão do ensino fundamental na maioria das escolas indígenas em especial quanto à sétima e oitava séries, ainda precisa ser criado material didático específico em nível de ensino médio sobre geografia, história e ciências naturais, e isto quando existir um ensino médio diferenciado a ser oferecido aos estudantes indígenas que lhes possibilite ingressar no ensino superior com capacidade de graduar-se. É a isto que as propostas de autonomia indígena direcionam: o aproveitamento dos potenciais humanos dentro das comunidades de modo a conduzir seus moradores ao progresso auto-sustentável. 

Poderia falar aqui sobre a dívida da população acreana com o seu contingente indígena, massacrado no processo de abertura das frentes colonizadoras brasileiras e depois no contexto da administração federal do território, para defender cotas para estudantes indígenas na UFAC, mas não cabe a mim tal alerta. Falando positivamente, em termos de redes sociais, é importante lembrar ao governo estadual que, uma das propagandas mais inteligentes que podemos fazer do Acre divulgando o seu turismo e as suas vantagens são através da valorização do nosso patrimônio cultural, do nosso diferencial cultural.

Uma peça de artesanato têxtil indígena que se venda em Milão ou Camberra é uma propaganda muito eficiente junto a pessoas de excelente nível social e cultural, se constar nesse produto a marca de nosso estado. Um pajé ou tuxaua que se apresente em Toronto ou em Cusco, manifestando a produção cultural de seu povo e sua cosmologia ancestral, é um atrativo e fomenta atividades empreendedoras ligadas ao turismo. Um estudante indígena do Acre que se destaque, como Ornaldo Ibã o está fazendo, dignifica todo o sistema de educação indígena diferenciada no estado. Precisam ser valorizados, pois estes são nossos embaixadores da selva, que se destacam e obtém espaço na mídia, como Haru Kuntanawa e Shaneihu Yawanawa, artífices da construção da florestania, porque, perdoe esse meu entender se equivocado, isso de florestania não é mesmo uma ideologia senão um estado de espírito, e tal estado de espírito é a realização da Aliança dos Povos da Floresta no seio das famílias que em defesa do patrimônio da floresta se pacificaram. É algo que já existia antes de ser nomeado, e entretanto é ainda um processo em construção pelos próprios moradores do Acre.

Moradores do Acre, e não apenas eleitores, eu falei: porque os indígenas no Acre podem representar uma força eleitoral pouco expressiva, a não ser em municípios muito pequenos como Santa Rosa do Purus ou Porto Walter, e não terem uma eficaz articulação política e suporte financeiro a nível estadual para assegurar o devido acesso de todas as etnias às decisões participativas, mas possuem importância fundamental no processo de construção da moderna sociedade acreana, sendo eles que estabelecem, através de seu empenho em valorizar suas culturas tradicionais e formar novas gerações de indígenas acreanos com sua dignidade de vida assegurada, um enorme potencial de utilização das redes sociais internacionais para benefício não apenas das comunidades indígenas, mas do estado como um todo, é isso o que gostaríamos de ver incluído na visão dos gestores da nossa administração pública, para um futuro melhor para todos. "Nosso saber é nossa marca": este lema, do Instituto Indígena Brasileiro de Propriedade Intelectual, criado a partir da iniciativa dos pajés de diferentes etnias brasileiras, cabe muito bem para ilustrar essa nossa vontade de dar valor ao que é da nossa terra.

Contatos com o estudante indígena: ornaldosenna@gmail.com

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