11 de outubro de 2011

Jordão-AC em grande desvantagem no Enem 2011 - Por Hugo Brito

Caros leitores, o título acima parece imbuído de uma aparência gráfica impactante. Mas as verdades são impactantes, posto que não estamos acostumados com elas. A primeira vista, o título salta aos olhos de maneira a levar o leitor a uma interpretação tímida e com desvelo a ponto de não querer, logo a princípio, fazer uma interpretação errônea do que está por ser lido. Mas, para decepção dos que assim pensam, sinto em dizer-lhes que esta é a verdade: O Jordão, infelizmente, é apenas um figurante no Enem 2011.  

Os motivos? Discorrê-los-ei pois. 

Quem nunca ouviu falar sobre inclusão educacional? Quem nunca ouviu falar em melhoras na educação? Esses e outros temas são discorridos, não poucas vezes, por políticos ávidos por poder, mas prática que é bom, nada. O Jordão está tão fora do contexto brasileiro que já recebeu a alcunha, por parte do fantástico, de “Brasil dos excluídos”. Somos de fato excluídos. Um retrato de um Brasil que muitos desejam esconder. Esta é uma verdade que não é difícil de fazer uma constatação. Estamos  demasiado atrasados dos outros municípios, principalmente na questão educacional.

Já não está distante o dia em que os estudantes brasileiros, de maneira concomitante, prestarão o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, que tem como data prevista, para a aplicação da prova, o dia 22 e 23 do mês corrente. Até aí tudo ótimo, diz-se na TV que o governo federal está “democratizando o acesso as universidades”, isto não deixa de ser veracidade, dependendo, no entanto, do prisma em que se avalia esse processo democrático, afinal, democracia, dentro deste contexto, está referindo-se a: permitir que as escolas, com exceção daquelas situadas em municípios interioranos provenientes dos estados localizados na região Norte e Nordeste, deleitem-se com as vagas universitárias. Isso é um absurdo, mas é a verdade! Falo isso pelo meu município. Nunca tivemos, e nem sei se teremos, uma educação que nos permita concorrer de igual para igual com os demais discentes do Brasil. Nunca fomos preparados para essa realidade. O Ensino Médio de Jordão não supre a necessidade de quem deseja ir além, tornando o sonho de cursar uma universidade federal apenas uma utopia. A culpa é dos professores? Claro que não... Os professores são apenas vítimas desse sistema defasado. Eles não podem nos preparar para o Enem sendo que eles nunca foram treinados para tal. A universidade atestou-os em pergaminhos uma ciência que eles estão longe de trazer arraigada no cérebro. Estão tão ou mais perdidos do que nós, estudantes autodidatas. É inegável que temos professores fabulosos e de merecida veneração, verdadeiros lentes do conhecimento, pessoas com lisura de procedimento para atuar em suas licenciaturas, como é o caso da professora Meire Sérgio e a professora Neusimar que estão sempre lutando para tornar a faculdade um sonho possível para as pessoas de casta social inferiores. Ambas são mulheres de cultura vasta e variada, mas, que não podem apenas com a vontade mudar os rumos da educação deste município, é preciso investimento, é preciso que sejamos enxergados pelos administradores deste Brasil como povo brasileiro.
      
Existem várias definições de analfabetismo. No Brasil, são consideradas analfabetas as pessoas incapazes de ler e escrever um bilhete simples e as que apenas assinam o próprio nome. A incapacidade de interpretar textos maiores é intitulada de analfabetismo funcional. O analfabetismo é o principal indicador de atraso educacional de um país já que ler e escrever é o ponto fundamental para o processo de aprendizagem do indivíduo na escola, de seu desenvolvimento no mercado de trabalho e de participação da vida social e política da nação. Eis o problema do Jordão. Para se ter uma idéia, o Jordão é, talvez, o único município do estado do Acre que não dispõe de uma biblioteca pública municipal e muito menos estadual para a lapidação intelectual de seus habitantes, o que dirá de um bom acervo para quem deseja fazer uma preparação para uma prova com a magnitude do ENEM. Como agravante, se os estudantes quiserem fazer valer o direito de ao menos prestar a prova vestibular, terão que viajar, no mínimo três dias de barco, rumo à cidade mais próxima, Tarauacá. Os problemas não param por aí, os estudantes ainda têm que lutarem contra as agruras do rio, afinal, o rio pode encontra-se caudaloso e prenunciar um possível alagamento dos barcos que nele arriscar-se a transitar. Tem mais, para realizar as inscrições do Enem e da UFAC, os interessados tiveram que esperar dias para poder ter uma chance de fazer uso da internet. Isso mesmo. Aqui, a internet, além de ser a passos de tartaruga, é um privilégio de poucos, afinal, apenas as escolas as dispõe.

A pergunta é: como estudar com a escassez de bons materiais se nem ao menos temos o privilégio de acessar uma internet de qualidade?
Como concorrer com estudantes que além de cursarem um ótimo Ensino Médio, ainda freqüentam bibliotecas e cursinhos especializados para vestibular?
Como ter um futuro digno se nossos sonhos são castrados antes da execução dos primeiros passos?
Mas iremos fazer o ENEM, afinal, alguém aqui tem que fazer a sua parte.

Por Hugo Brito

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